História da Dança














 No ventre feminino é que reside o “vaso da criação”, fonte de energia vital feminina. Falar de dança do ventre é falar de uma arte milenar que destaca a feminilidade de cada mulher, e traz inúmeros benefícios que vão desde o aspecto físico, até os emocionais e espirituais. Quando pensamos em dança do ventre, associamos a um mundo mágico, misterioso, por isso ouvimos muito a expressão “magia do oriente”. Nos dias atuais esse espaço ou tempo nos vem muito a calhar, pois sentimos a necessidade de um refúgio, um momento especial para nos encontrarmos ou nos dedicarmos a nós mesmas. Nessa interiorização nos encontramos com nossa essência feminina. No campo energético , há um trabalho com “chakras”, fazendo com que as energias represadas sejam desbloqueadas. As mulheres que praticam a dança do ventre tem ciência de seu próprio corpo. É um autoconhecimento que desperta o amor próprio, fazendo–a perceber a beleza que tem interiormente e exteriormente, onde a forma física não é o tipo ditado pela sociedade, e sim sua própria forma, seja ela qual for.

A DANÇA
A dança do ventre teve sua origem no Egito há aproximadamente 1500a.C. e era praticada por sacerdotisas em rituais que homenageavam a deusa Ísis, deusa da fertilidade. Com a invasão do povo árabe no Egito em 638 d.C., a dança foi incorporada à cultura árabe, assumindo ares mais festivos. Passou a ser praticada em festas populares e em palácios. O sentido da dança do ventre mudou novamente com a invasão da Turquia ao Reino Árabe. De sagrada e folclórica, passou a ser uma dança profana.
Hoje, é uma dança tradicional da cultura dos países do Oriente Médio, sendo também praticada em várias outras regiões do mundo como uma dança típica. É dançada não só a tradicional árabe, mas também danças de resgate à sua origem ritual como a Dança dos Sete Véus e a Dança dos Cinco Elementos; danças com acessórios, como os snujs, o bastão e a espada; e ainda danças que retratam a situação da época, como a dança das beduínas e dos aguadores.


A Dança Ghawazee
A Dança das Ghawazee tem origem no Egito e foi inspirada pelos Ciganos (Nawar) que por lá passaram em sua trajetória para o mundo. Por razões desconhecidas, deixaram a Índia por volta do século XIII e migraram para as seguintes regiões: Afeganistão, Síria, Líbano, Turquia, Grécia, Egito, Espanha e Norte da África.
Normalmente dançam em eventos abertos, populares, ao longo dos rios, nos subúrbios da cidade, mercados e vilas. Usam roupas bem típicas e combinações específicas de movimentos de quadris, bem repetitivos, e na maior parte das vezes, acompanhados de snujs ou bastão, num ritmo regular e constante.
Ghawazee é o plural de Ghaziya, muito famosas dançarinas femininas, principalmente no Alto Egito, na região de Luxor, atualmente. Ghawazee significa “invasora do coração”, como de fato, os ciganos têm vivido como um povo à parte, fora das cidades e da sociedade. Os homens atuam como músicos ou gerentes do evento.
Yousef Mazin, muito conhecido como o mais famoso pai de Ghawazee, morava perto dos templos de Luxor e contava que sua tribo originariamente veio da Persia. Ele reconhecia que foram banidos de suas terras por causa principalmente da péssima reputação e comentava que encorajava suas filhas e filhos a tornarem-se artistas para poderem manter-se no Egito.
Khairiyya Mazin, uma das últimas autênticas Ghawazee a atuarem no Alto Egito, ainda faz shows e ministra aulas. Ela mora em Luxor e dedica-se a manter a tradição da Dança das Ghawazee no Egito.




A Dança Andaluz
A palavra "Andaluz" refere-se ao cruzamento histórico entre a Espanha e a África do Norte árabe durante o período otomano. Cada um dos países influenciados tem seu próprio estilo de danças andaluzes, a maior parte destas refletindo as danças da corte realizadas por artistas profissionais.
A música chamada Malouf, considerada clássica e executada por uma orquestra com cantores, instrumentos de cordas, sopro e percussão, além de executada originalmente para grandes califas, reis e sultões, é que teria originado o estilo de dança chamado Andaluz, estilo este muito sofisticado e apreciado por um público cativo.
As dançarinas vestiam-se de forma suntuosa e usavam um coque. Avançavam a passos ligeiros e seus braços desenhavam graciosos arabescos, os quais ilustravam os meandros da melodia. Além disso, usavam lenços de seda que prolongavam a sinuosidade dos movimentos.
A referência musical que temos para realizar este estilo de dança, é baseada na forma da poesia árabe falada/cantada, chamada Mowashah (plural Mowashahat), que se utiliza de vários ritmos, entre o quais o ritmo Samai Darig. Como referência de dança, podemos mencionar o trabalho do grandioso mestre Mahmoud Reda, o qual destaca a participação masculina junto à feminina nesta dança que originalmente era executada somente por mulheres.
Como dica de apresentação para esta dança vale lembrar suas características principais que são a elegância e a fluidez para se mover em cena.
Por fim, destaco uma antiga e famosa canção que retrata bem o estilo Mowashah, a maravilhosa Lama Bada Yatathanna. Vamos lá, apreciem esta música e mergulhem neste envolvente estilo de dança, Andaluz.
Dança dos Sete Véus
sete_veus.jpgA dança dos sete véus não é uma dança folclórica e não tem caráter erótico, apesar do que comumente se possa imaginar.

Sua história é pouco precisa e certa. Por conta disso há muitos mitos e lendas acerca de sua origem e de seus significados.

Uma delas diz que era uma dança praticada por sacerdotisas dentro dos templos da deusa egípcia Isis. Uma outra lenda diz que a dança dos sete véus está associada à passagem bíblica onde Salomé pede a cabeça de João Batista.

Em uma apresentação, a bailarina vai retirando cada um dos sete véus que estão presos ao seu corpo enquanto dança.

Cada véu é retirado com habilidade, delicadeza e naturalidade. Fazendo movimentos com cada véu, assim como movimentos ondulatórios, laterais de cabeça, movimentos de mãos, movimentos de transe.

Também podem-se explorar giros, descidas, cambrees, deslocamentos.

As cores dos véus geralmente são vermelho, laranja, amarelo, verde, azul-claro, lilás, branco. Isso não é uma regra, podendo variar conforme a escolha da bailarina.

O tamanho dos véus e a disposição deles no corpo também são de escolha pessoal.

Geralmente o tamanho de cada véu é determinado pelos tipos de movimentos que se pretende fazer com ele e também do local do corpo que se pretende prendê-lo.

Recomenda-se que a roupa da bailarina, embaixo dos sete véus, seja preferencialmente de cor clara e suave, para não competir com as cores dos véus presos ao corpo.

Pode-se optar por uma música que tenha no mínimo uns sete (7) minutos, dedicando-se a dançar aproximadamente durante um minuto com cada véu. Caso contrário corre-se o risco da retirada dos véus ser muito rápida, perdendo um pouco a qualidade da dança.

Não se dança ao som de músicas folclóricas ou solos de derbak. Sendo mais apropriadas para a dança dos sete véus as músicas instrumentais.

Conheça um pouco da Dança dos Sete Véus, assistindo o vídeo abaixo:



DANÇA DA ESPADA
 Existem várias lendas para a origem da dança da espada. Uma delas diz que é uma dança em homenagem à deusa Neit, uma deusa guerreira. Ela simbolizava a destruição dos inimigos e a abertura dos caminhos. Uma outra, diz que na antigüidade as mulheres roubavam as espadas dos guardiões do rei para dançar, com o intuito de mostrar que a espada era muito mais útil na dança do que parada em suas cinturas ou fazendo mortos e feridos. Dançar com a espada permite equilíbrio e domínio interior das forças densas e agressivas. Uma terceira lenda conta que na época, quando um rei achava que tinha muitos escravos, dava a cada um uma espada para equilibrar na cabeça e dançar com ela. Assim, deveriam provar que tinham muitas habilidades. Do contrário, o rei mandaria matá-lo. O certo é que, nesta dança, a bailarina deve saber equilibrar com graça a espada na cabeça, no peito e na cintura. É importante também escolher a música certa, que deve transmitir um certo mistério. Jamais se dançaria um solo de Derbak com a espada

DANÇA DO PUNHAL

           
Hoje em dia o punhal é considerado uma derivação da espada, não tendo um significado padrão. Seu traje é comum e o ritmo mais usado é o Wahd Wo Noss. Porém, a história antiga nos revela que essa dança era uma reverência à deusa Selkis, a Rainha dos Escorpiões e representava a morte, a transformação e o sexo.
Na Arábia e no Marrocos é tradição. Esta dança era usada nos bordéis da Turquia e há quem fale que quando a bailarina dança com a lâmina para dentro quer dizer que ela está acompanhada e quando dança com a lâmina para fora, quer dizer que "está livre".
Existem crenças a respeito dos significados de cada gesto que a bailarina faz com o punhal durante sua dança. Vejamos alguns deles:
Colocá-lo na testa na horizontal significa magia; colocá-lo na testa com a ponta para baixo, significa morte; dentro do sutiã significa sexo; entre as mãos significa boas vindas, alegria; colocá-lo entre os dentes significa sedução. Rodar com ele na testa, significa destreza, habilidade; deitá-lo sobre os seios, quer dizer que está apaixonada; pagá-lo com a ponta dos dedos e rodá-lo é o sucesso da bailarina. Passá-lo pelo corpo, significa querer seduzir alguém e dançar batendo-o na bainha quer dizer que está chamando.
Sabe-se que era na verdade uma arma para defesa em situações que colocassem em risco a vida. Por isso, ficou bastante associada aos ciganos e às mulheres que dançavam na rua em troca de dinheiro.
As músicas são umas das mais fortes da dança do ventre. As turcas são ideais.

CASTIÇAL OU CANDELABRO

Raks Al Shamadan. Este tipo de dança existe a muitos anos e fazia parte das celebrações de casamento e nascimento de crianças. É tradicionalmente apresentada na maioria dos casamentos egípcios, onde a bailarina conduz o cortejo do casamento levando um candelabro, específico para a dança, na cabeça. Desta maneira, ela procura iluminar o caminho do casal de noivos, como uma forma de trazer felicidade para eles.
Hoje em dia, é comum que a bailarina apresente a dança do candelabro no começo de seus shows. Este pode ser de 7, 9, 13 ou até mesmo de 17 velas, a critério de cada uma.
É de costume que a roupa seja toda preta ou toda branca, mas não há problema nenhum em dançar com roupas de outras cores também. O ideal é que a roupa seja composta e adequada para este tipo de dança que é considerada sagrada, por celebrar casamentos e nascimentos de crianças.
As velas, na maioria das vezes, são brancas, porém há quem goste de velas coloridas e acreditam em seus significados. Vermelho é o amor passional, sexo e fecundidade. Lilás é transmutação, amarelo é saúde, verde é dinheiro, branco é pureza, azul é carinho e rosa é afeto.
Muitas bailarinas gostam de dançar com véu por baixo do candelabro ou preso na roupa; este combina sempre com a cor das velas. Outras gostam de dançar com o chadô, dando um certo mistério à sua dança.

VÉU OU LENÇO 




Não se sabe ao certo como surgiu a dança com véu. Dizem que ela tem suas raízes na dança dos sete véus. O véu atualmente é um dos símbolos mais comuns da dança do ventre e são muitos os passos que o utilizam. Alguns são usados especialmente para emoldurar o rosto ou o corpo da bailarina, assim envolvendo-a em mistério e magia. Por ser transparente, tem o encanto de mostrar sem revelar.
A dança com lenço sugere uma brincadeira com as peças do vestuário usadas no dia a dia. O lenço pode ser usado na cabeça por diferentes motivos: o mais conhecido no ocidente é a obrigação muçulmana de usa-lo por motivos religiosos; porém, as beduínas e tuaregs o utilizam para proteger sua pele e seus cabelos dos rigores do deserto.
Os véus foram incorporados às apresentações de dança do ventre como forma de enriquecer o espetáculo com seus movimentos suaves, mas acredita-se que seu uso é moderno e tem poucas ligações com o folclore tradicional.
As coreografias com véus em grupo são de grande efeito em um espetáculo de dança. São inúmeros os movimentos, podendo executá-los com véus duplos, onde alcançará uma belíssima performance.
Hoje em dia é cada vez mais comum o uso do véu de seda toile; este possui uma leveza e caimento sem igual, engrandecendo a beleza de sua dança.


SNUJS
Pequenos címbalos de metal, instrumentos de percussão para acompanhamento rítmico, que a bailarina usa entre os dedos nas apresentações. São em número de 4, sendo um par em cada mão.
Dizem que os snujs eram usados pelas sacerdotisas para energizar, trazer vibrações positivas e retirar os maus fluidos do ambiente.
Conhecer e aprender a diferenciar o ritmo árabe é essencial para conseguir tocar snujs. É preciso desenvolver um ouvido musical, as noções de ritmo e contagem de tempo. Um mesmo ritmo pode ficar mais lento ou mais rápido, conforme a música que estiver sendo executada. Se ainda não houver domínio sobre a parte musical, fatalmente a bailarina se atrapalhará quando o ritmo da música se alterar. Ela corre o risco, inclusive, de errar também na sua movimentação corporal.


BASTÃO OU BENGALA

 
Há uma dança masculina originária de El Saaid, região do Alto Egito, chamada Tahtib. Nela são usados longos bastões chamados Shoumas. Estes bastões eram usados pelos homens para caminhar e para se defender.
Note que Saaid também é o nome do ritmo originário desta região. As mulheres costumam apresentar-se utilizando um bastão leve ou uma bengala, imitando-os, porém com movimentos mais femininos. Elas apresentam-se ao som do ritmo Saaid original, que é o mais comum e o mais usado. Porém pode ser dançado também com Maksoum, Malfouf ou até mesmo o Baladi.
Durante a dança, a mulher apresenta toda a sua habilidade, equilíbrio e charme. Costuma-se chamar esta dança feminina de Raks El Assaya (Dança da Bengala). A Raks El Assaya foi introduzida nos grandes espetáculos de dança do ventre pelo coreógrafo Mahmoud Reda. Fifi Abdo teria sido a primeira grande dançarina a apresentar performances com a bengala. Porém ela se apresentava com roupas masculinas.
A roupa típica da dança da bengala é um vestido com um lenço no quadril e um adereço qualquer na cabeça, um lencinho, etc. Não se deve, nunca, dançar somente com duas peças (sutiã e cinturão) a dança da bengala. A roupa pode até ter uma "barrigueira", vestidos com buracos, enfim, mas nunca só com a roupa de dança do ventre comum (duas peças).


fontes:
 * Libanoshow - O seu portal da Cultura Árabe
* Dança do Ventre - Ciência e Arte - Patrícia Bencardini
* Dança do Ventre - Dança do Coração - Merit Aton
* A Arte da Dança do Ventre - Apostila - Lulu Sabongi
* A Dança da Libertação - Cláudia Cenci
* Apostila Workshop Saamira Sâmia em B.Hte.
* Vídeo Didático - Soraia Zaied - Vol. 3

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